

Este é um daqueles livros que eu sempre quis ler, mas, ao mesmo tempo, sempre tive algum… receio.
Como a minha relação com a morte não foi sempre muito pacifica, e sabendo o tema do livro, quis fugir-lhe como que ignorando-o estivesse também a fugir da minha própria morte. Mas, algum dia, teremos de encará-la de frente.
Resolvi fazer o mesmo com o livro.
Contudo acho que fiz bem. Hoje, estando em paz comigo mesma, o livro não me provocou a angústia e o sofrimento que, se o tivesse lido mais cedo, provavelmente provocaria.
É um livro pequeno, uma novela que se lê em cerca de 2 horas. Eu li-o depois de uma celebração dos 50 anos de aniversário de uma amiga…
Ivan Ilitch tem 45 anos.
A alegria de viver, a felicidade, o entusiasmo, o sonho e a jovialidade estão bem presentes em mim nesta fase da minha vida, por isso mesmo iniciei a sua leitura.
E não foi por acaso. Fi-lo de uma forma consciente, propositada, quase como se assim tivesse um “escudo”, uma qualquer barreira invisível que me pudesse, de alguma forma, proteger de emoções, sentimentos mais taciturnos e nefastos que o livro me trouxesse.
Pode-se dizer que a novela está dividida em duas partes. Na primeira o autor apresenta-nos o percurso de vida de Ivan, a sua forma de se posicionar na mesma, em súmula, as suas escolhas.
Na segunda, o sofrimento e agonia da personagem nos seus meses finais, a sua angústia perante o inevitável.
É escrito de uma forma realista, crua, quase que fria, mas ao mesmo tempo revela uma grande sensibilidade.
Ivan somos todos nós.
Como lidar com a própria morte?
Como lidar com alguém que está a morrer?
Encaramo-la de frente ou negamos o óbvio?
O que é que eu fiz da minha vida?
Qual o sentido da morte?
Qual o sentido de tudo isto?
Fugimos sempre a debater estes temas porque nos incomodam.
Contudo, posso dizer que amei o livro, principalmente do meio para o fim, e, quando o fechei, fiquei em silêncio, respeitando a dor de Ivan e nele a de todos nós.
É um daqueles livros que, ao contrário do que pensava, voltarei a ler com imenso respeito, precisamente quando estiver deprimida e a precisar de levar um par de estalos para acordar para a Vida.
Quem diria.
(Marta Monteiro Alves)
Autor:
Lev Tolstói