O Caminho

"Tal como na vida, o Caminho não é sobre alcançar metas, …"

Marta Monteiro Alves

7/4/2024

Como a vida não é só feita de sucessos, hoje venho-vos dizer que não fiz o Caminho de Santiago.

Não fui, mas resolvi tirar um tempo para mim, para fazer na mesma uma peregrinação, ainda que interior. Assim, resolvi afastar-me das redes sociais, fazer caminhadas por aqui mesmo, meditar, escrever, ler, estar conectada comigo mesma. Tirei um tempo para mim. Sou muito sociável, mas também preciso, às vezes, de estes momentos comigo mesma. Agora estou de volta e quero-vos dar uma palavrinha 🥰

Acabei por não fazer o Caminho de Santiago, pois, quando finalmente chegou a hora da verdade e coloquei a mochila às costas, começaram a assaltar-me inúmeras dúvidas e receios.

Percebi que não estava fisicamente preparada e que iria forçar o meu corpo para além dos meus limites, o que poderia resultar em sérios problemas de saúde, comprometendo não apenas a peregrinação, mas a minha qualidade de vida no futuro, pois eu já tive três hérnias discais e fui operada à coluna, e, sinceramente, não me apetecia passar pelo mesmo…

Claro que eu já o sabia, mas, tal como na vida, também começamos com grandes sonhos e objetivos (desde a infância que traçamos planos e imaginamos um futuro brilhante e que tudo conseguimos, e eu estava a fazer exatamente o mesmo), depois a realidade apresentasse-nos implacável e alheia à nossa vontade e precisamos colocar os pés na terra.

Confesso que fiquei um pouco triste, desiludida e frustrada, pois tinha imaginado dias de experiências únicas e inesquecíveis, e não pude deixar de traçar um paralelismo com a nossa jornada na vida. É que também nós, à medida que vamos avançando no nosso percurso, vamo-nos deparando com obstáculos inesperados que, muitas vezes, nos cortam os sonhos.

Problemas de saúde, perdas pessoais, desafios profissionais, questões existenciais, cada um de nós enfrenta as suas próprias pedras no caminho e há momentos em que sentimos que não vamos conseguir, que o peso das dificuldades se torna insuportável, que sentimos a nossa mochila muito pesada.

Aí precisamos de parar, de ouvir os sinais que a vida nos dá, de observar e observarmo-nos, de arranjar uma forma de aliviar a mochila e refletir qual o rumo a seguir.

Precisamos, também, de acolher esses sentimentos de frustração, dor e desilusão, de vivenciá-los, enfrentando-os, e de integrá-los, aceitando-os (é a única forma de amenizar o peso da mochila) e seguir em frente.

Saber quando mudar de direção, procurar novas rotas ou até mesmo fazer uma pausa, é essencial para o nosso bem-estar. Ás vezes, desistir de um caminho que nos está a fazer mal é a decisão mais sábia.

Não que tenha desistido do sonho, mas percebi que a minha abordagem não tinha sido a mais correta.

Percebi que, para uma tal empreitada, precisava de me preparar fisicamente muito melhor. Se o quero fazer, não posso ir com tanta ânsia, tenho de ter a sabedoria dos pequenos passos, para conseguir chegar ao destino final. Planeio um dia voltar ao Caminho, talvez dividindo o percurso em etapas menores, sem dúvida com um maior tempo de preparação física e melhor planeamento.

Ter a sabedoria de ouvir os sinais, refletir e inverter o rumo quando a realidade se impõe ao sonho, é também uma lição de vida, pois forçar-se para além dos nossos limites não leva ao sucesso, mas pode levar á autodestruição.

Esta experiência ensinou-me uma importante lição de humildade e aceitação do meu corpo e da minha idade. Não fiz o caminho a pé, é certo, mas realizei uma peregrinação interior donde retirei importantes ensinamentos sobre humildade, autocompaixão e aceitação.

Saber quando parar, ter a coragem e a humildade de aceitar as nossas limitações, não é derrota, é sinal de maturidade. Aprender a reconhecer os nossos limites e aceitar as nossas próprias fragilidades, faz parte de toda uma aprendizagem e contribui para a nossa evolução pessoal, porque, no nosso caminho de vida, a verdadeira jornada é também interna.

Porque o verdadeiro significado da peregrinação não está apenas no destino, mas em cada passo, em cada desafio enfrentado, em cada desvio encontrado e em cada reflexão ao longo do caminho.

Tal como na vida, o Caminho não é sobre alcançar metas, mas sobre o crescimento e transformação que ocorrem enquanto tentamos alcançá-las.

É sobre a pessoa que nos tornamos, é sobre evolução pessoal.

Nesse sentido, o importante não é chegar ao fim, mas sim as lições que colhemos e a pessoa que nos tornamos ao longo da caminhada.

Para mim, a verdadeira lição foi a capacidade de reconhecer os meus limites, ter a humildade de os aceitar e perceber que para tudo há um momento certo. E este não era esse momento.

Afinal, não são os quilómetros que se fazem que interessam, mas sim as aprendizagens que tiramos, e, nesse sentido, considero esta experiência muito proveitosa.

A vocês, quero agradecer todo o apoio e palavras de incentivo, mas, sobretudo, quero agradecer-vos também por fazerem parte do meu Caminho. Obrigada ❤😍

P.S.: E como tudo deve ser enfrentado de frente, para a semana vou a Santiago, desta vez de carro 🤗

[Marta Monteiro Alves - 04/07/2024]

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