

Ao contrário da maioria das histórias, esta tem o seu clímax, digamos assim, logo nas primeiras frases.
“Quando uma manhã Gregor Samsa acordou de sonhos inquietos….”.
Quando as li, não tinha conhecimento algum sobre o livro, pelo que a situação surreal que “aconteceu“ a Gregor S. atingiu-me tão profundamente que, até hoje, recordo as sensações de surpresa, espanto e perplexidade que senti. Sensações as quais, não querendo de forma alguma privar um futuro leitor, não vou revelar.
A sua leitura leva-nos a muitas reflexões profundas.
Será que estamos a viver a nossa vida de acordo com os nossos sonhos e o nosso propósito ou será que estamos a vivê-la de forma a sermos “úteis” para os outros?
Sejam os outros a nossa própria família, os nossos colegas de trabalho ou, no sentido mais lato, a sociedade em geral.
E valerá a pena?
O que aconteceria se deixássemos de ter utilidade?
Será que nos veriam de igual forma? Ou passaríamos a ser algo incómodo, repulsivo e até descartável?
Qual o preço da solidão a pagar para vivermos segundo os padrões e/ou os sonhos dos outros?
E, de outra forma, como será que os outros nos tratariam se, por algum motivo, nos transformássemos?
E até que ponto o tratamento que os outros nos dão, e como os “outros” nos veem também nos transforma?
E nós?
Como é que nós mesmos lidaríamos com a mudança da nossa carapaça exterior?
Como nos sentiríamos, presos dentro de um involucro que não é nosso?
Teria impacto no nosso interior?
A situação que acontece a Gregor Samsa é de tal forma absurda que se torna genial.
Um pequeno livro, de leitura fácil, que se lê rapidamente mas que deixa um impacto profundo, como é apanágio das obras-primas.
(Marta Monteiro Alves)
Autor:
Franz Kafka