A Jornada do Crescimento
"Quanto a mim, uma jornada de crescimento pessoal envolve um movimento do exterior para o interior …"
Marta Monteiro Alves
8/3/2024
Este provérbio chinês tocou-me profundamente, pois sintetiza de forma exemplar e simples, aliás como é apanágio dos provérbios populares, uma sabedoria profunda com a qual me identifico completamente.
Quanto a mim, uma jornada de crescimento pessoal envolve um movimento do exterior para o interior. Nós primeiramente começamos por olhar para fora e a culpar os outros, para depois nos voltarmos para dentro e passar a culpa para nós, até que, finalmente, chegamos ao ponto em que percebemos que não há culpa.
Percebemos que não há nada nem ninguém a quem culpar e a culpa é substituída por compreensão e aceitação, o que conduz a um estado de equilíbrio interno.
Quando uma pessoa culpa os outros pelos seus problemas ou dificuldades, está, no fundo, a negar a sua própria responsabilidade e o poder que tem de mudar a sua própria vida. E é tão mais fácil culpar o exterior, culpar os outros: os pais, a família, os amigos, o país onde se nasceu, o contexto socioeconómico e familiar, a vida, Deus, o destino, etc.


Tudo é passível de se lhe atribuir culpa, menos nós próprios, pois é tão mais fácil e cómodo culpar os outros, sejam lá eles quem forem. A culpa não sendo nossa, faz com que nos desresponsabilizemos de mudar o curso dos acontecimentos e nos coloquemos numa situação de vítima. Esta é muitas vezes uma defesa para proteger a nossa autoestima e de evitar o desconforto de reconhecer as nossas próprias falhas ou incapacidade de mudar a situação. E nem percebemos que ao atribuir a responsabilidade exclusivamente aos outros negamos a oportunidade de aprendermos com os próprios erros e/ou com a situação e de crescer, evoluir. No meu entender, revela um entendimento superficial da vida, onde as circunstâncias externas são vistas como os únicos determinantes do nosso estado interno.
Noutro estado mais avançado, a pessoa faz um movimento para dentro e reconhece a sua responsabilidade nos acontecimentos. Quando esta mudança ocorre é quando a pessoa já desenvolveu consciência crescente sobre o seu papel nas situações, começando, assim, a reconhecer a sua própria responsabilidade e as escolhas que faz.
No entanto, esse reconhecimento vem muitas vezes acompanhado de um sentimento de culpa ou de autocondenação. Passa de vítima a “carrasco” de si mesmo. É necessário, sim, muita autorreflexão, questionamentos e até autocritica, mas é essencial que esta seja equilibrada e construtiva, evitando o excesso de autocritica que pode ser paralisante, pois a autocritica excessiva pode ser uma armadilha se for acompanhada de sentimentos de culpa e de falta de compaixão consigo mesmo.
A pessoa passa de uma situação de vítima dos outros, para se tornar vítima de si mesma. Do seu excesso de perfeccionismo.
Um nível de consciência mais elevado reflete uma aceitação profunda da realidade.
O que significa entender que culpar é inútil e muitas vezes simplista.
Em vez de procurar culpados, a pessoa deve focar-se em compreender as circunstâncias e responder de maneira consciente e equilibrada.
É reconhecer a complexidade da vida e das relações humanas.
É reconhecer que ninguém é perfeito.
É adotar uma atitude de aceitação e compaixão.
Essa aceitação não deve ser confundida com passividade, mas sim como uma forma de estar, como uma forma de sabedoria, que percebe que há muitas questões que nos escapam, que não podemos ter a pretensão de saber tudo, de tudo compreender, e aceitar que “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia” (William Shakespeare, in Hamlet) ou que “Só sei que nada sei” (Sócrates).
É concentrar-se nas soluções em vez de na atribuição de culpas.
Neste estado, a pessoa alcança uma paz interior e uma clareza que transcende o julgamento e a culpa, e traduz uma visão mais compassiva da vida, onde se percebe que as circunstâncias são resultado de uma complexa teia de causas e efeitos (nem sempre perceptíveis) e que o foco deve estar em aprender, crescer, evoluir em vez de atribuir culpas.
Quanto a mim, o verdadeiro conhecimento não vem de descobrir as causas e atribuir as culpas, mas sim da compreensão, aceitação e ação consciente, percebendo que não há culpa, nem dos outros, nem nossa. Cada um está no seu caminho, no seu processo.
Eu consigo olhar para a minha vida e perceber claramente que já tive estas atitudes e hoje em dia tenho um grau de aceitação e compaixão comigo mesma que não tinha no passado. Há muito que deixei de procurar culpados e que assumi a responsabilidade pela minha própria vida, mas… sabendo que não sou perfeita, nem controlo nada, aceito a vida como ela é.
Consigo a cem por cento e em todos os momentos?
Não.
Mas cada vez mais hoje que ontem.
Estou no caminho.
[Marta Monteiro Alves - 03/08/2024]