Flores
"Nos nossos relacionamentos, muitas vezes, o que nos atrai são as flores, …"
Marta Monteiro Alves
12/21/2023
Nos nossos relacionamentos, muitas vezes, o que nos atrai são as flores, as partes visíveis, bonitas e atraentes de alguém. Isto passa-se, não só a nível amoroso, mas em todo o tipo de relacionamentos, como, por exemplo, a amizade.
O que nos atrai é a aparência, seja o corpo físico em si mesmo, seja uma personalidade encantadora, seja uma habilidade ou saber notável. O que for. Tal difere de pessoa para pessoa.
Umas gostam mais de rosas outras de orquídeas.
Umas gostam mais de flores do campo, outras de flores exóticas.
Umas atrai mais a aparência, outras o nível cultural, intelectual, ou, quem sabe, uma qualquer característica de personalidade como o sentido de humor.


O problema é que, assim, nos deixamos encantar pelas flores, sem entendermos completamente as raízes dos outros. As suas partes mais profundas e fundamentais que sustentam toda a estrutura, como as suas experiências passadas, traumas, valores, ou seja, as suas partes ocultas.
Na Primavera as flores apresentam-se lindas, viçosas e apelativas. Brilham em todo o seu esplendor, debaixo do Sol radiante.
Mas a Primavera não dura sempre.
O Outono há-de chegar.
Sempre chega.
E com ele o vento, a tempestade que tudo arranca.
Arrancando as folhas, as flores, deixando a planta despida, destituída de tudo o que a ornamenta e a torna bela, ei-la que surge agora nua, exposta e frágil, revelando todo o seu interior.
Quando chega o vendaval que tudo sacode, e ele sempre chega,
quando chegam os desafios, as preocupações, ou, tão só, as mudanças inevitáveis ao longo do tempo, se a estrutura não está bem enraizada, também ela vai com o vento.
Sai esvoaçando em direção ao infinito e dissipa-se no ar, tal qual um fugaz pensamento, um interlúdio na passagem do tempo.
A verdadeira profundidade de um relacionamento, seja ele qual for, surge quando se está disposto a explorar as raízes do outro. O que o sustenta. A sua base.
O que envolve estar atento ao outro, desenvolver uma conexão emocional profunda de compreensão e aceitação mútua, aceitando-se e aceitando o outro, tal qual ele é, para se construir relacionamentos duradouros e significativos, pois são as raízes que sustentam o crescimento e a resistência ao longo do tempo.
É certo que as estações se sucederam ao longo do tempo, não só na natureza, mas também em nós; aprendamos então com ela, não só a amar as flores, mas também a cuidar do chão 🧐.
[Marta Monteiro Alves - 21/12/2023]